Entrevista com Ferry Corsten, um dos pilares do trance mundial

No último Tomorrowland Brasil, nós conversamos com um dos pilares do trance mundial – Vem ver nosso bate-papo com o DJ Ferry Corsten

 

Falar a respeito de Ferry Corsten parece fácil, mas não é. O holandês é um dos pilares do trance como o conhecemos, e só de carreira, tem mais de 25 anos de estrada, mais do que muita gente tem de vida. Seus primeiros passos foram no início dos anos 90, e desde sempre, mostrou-se extremamente exigente seja tocando nos palcos, ou produzindo. Foi um dos pioneiros a dar voz aos seus fãs: em seu podcast semanal, o “Corsten’s Countdown“, é feito a partir das escolhas da audiência; a edição número 250, tocou ao vivo por 8 horas seguidas, e entrou três vezes nos trending topics do twitter durante essa apresentação em Nova York pela Sirius XM sendo o assunto mais comentado em todo o planeta. Teve com Tiesto o projeto paralelo “Gouryella” (em que atua solo atualmente) e mantém com Markus Schulz (que entrevistamos recentemente) o “New World Punx” além de ter tracks que estão sempre na lista das favoritas de Armin van Buuren, Paul van Dyk, Above & Beyond (citando apenas alguns).

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Tem 8 álbuns, infinitos IDMA’s (premiação europeia voltada aos melhores artistas de dance music), e durante o Tomorrowland Brasil teve um palco só seu – o Full On by Ferry Corsten, em que fez um back2back nos 15 minutos finais de cada um dos DJ`s que se apresentaram das 13:00 a 01:00 e ainda tocou um set solo (que foi um daqueles inesquecíveis). Entre essas apresentações, Ferry, atualmente com 42 anos de idade, me recebeu no backstage do palco, e com uma simpatia sem precedentes. Seus olhos azuis brilhantes, voz calma e suave, jeito simples, nos fazem acreditar que um dos maiores influenciadores do gênero é gente como a gente, e não se deixou levar pelos habituais ataques de estrelismo tão comuns hoje em dia. Suas palavras se aplicam a teoria e a pratica, e tudo o que conversamos, você confere integralmente – e entende quem é o incrível profissional que conhecemos nos palcos.

Você tem uma longa carreira atuando na cena eletrônica e sua vida se mistura a música eletrônica como as conhecemos hoje. Qual a sua maior contribuição para o gênero e o que o motiva a fazer isso por tanto tempo?

É é um pouco difícil falar sobre mim mesmo, mas se pensar no que eu escuto mais, e o que as pessoas falam é a respeito da minha contribuição em termos de melodia; da forma como minha melodia é estruturada É algo facilmente reconhecível na cena – eu fui um dos primeiros do gênero a trazer o trance para o mainstream e para as grandes audiências nos anos 90. Eu vou sempre mudando, prefiro nunca ficar repetindo o que já fiz; mesmo em trance eu gosto de adicionar electro, techno…

Como a música eletrônica influenciou a sua vida em geral?

Eu penso que eu vivo para isso.  Eu vivo para a música – isso seria o mesmo se fosse para clássico, jazz, blues, ou outros tipos, mas o que eu amo em música eletrônica, é que por exemplo uma guitarra é uma guitarra, uma bateria é uma bateria, mas em música eletrônica você pode criar infinitos tipos de sons, que você pode usar sintetizadores e realmente altera-los com suas próprias mãos. É diferente de por exemplo você escutar as notas de um violino em que você claramente reconhece que instrumento é tocado. É o que mais amo ter um campo vasto para ser explorado e isso me mantém motivado a nunca parar.

Você já pensou em dar aulas sobre música eletrônica?

Realmente muitas pessoas me pedem conselhos, e eu fico feliz em poder dar, mas começar uma nova carreira como professor, não.

Na sua opinião qualquer um pode ser DJ?

Se pensarmos em termos de apresentação, em trazer algo para o público através das pick ups, sim, qualquer um pode ser DJ, é o que tenho visto hoje em dia. Quando eu falo sobre música e sobre os DJ’s, existem alguns que não conseguem fazer isso em termos de música. Eles fazem grandes performances, pulam no palco mas quando pensamos a respeito de música eles não são ótimos. Então nesse sentido qualquer um pode ser DJ. Mas quando falamos de DJ no sentido restrito a música, não, já que você precisa ter bastante conhecimento em melodia, ritmo, o que as pessoas querem escutar. Você pode tocar 50 músicas explodindo uma atrás da outra, mas é diferente de quando você presta atenção tanto no que faz quanto no público – eles recebem isso de outra forma.

Para você um bom DJ precisa ser um bom produtor?

Eu acho que não. Por exemplo, pense em Carl Cox – ele é muito mais DJ do que produtor; ele chegou a lancar algumas tracks, mas ele não é reconhecido pelas suas produções, e sim por ser um excelente DJ. Então para ser um bom de jay você precisa ter senso exato de onde quer levar as pessoas que estão lhe escutando. E como você irá fazer isso. Claro que especialmente das últimas duas gerações para cá temos muito mais produtores do que antigamente principalmente porque a música eletrônica se tornou algo mais popular portanto tem muito mais gente interessada em fazer seus próprios tipos de música, E na última década surgiram muito mais oportunidades para os DJ’s tocarem suas próprias músicas.

Ferry Corsten & Markus Schulz, o "New World Punx"
Ferry Corsten & Markus Schulz, o “New World Punx”

Qual foi o melhor e o pior de ter começado nos anos 90?

O melhor de ter começado nos anos 90 é que as pessoas tinham a mentalidade muito aberta, era o completo oposto de hoje. Hoje tem muita gente que faz praticamente o mesmo tipo de música. Nos anos 90 se você utilizasse algum tipo de música que alguém já usava antes, as pessoas não acreditariam em você. O bom de hoje é que você tem muita facilidade para concretizar o que quer como grandes estúdios sintetizadores melhores, enfim tudo é muito mais fácil, E mesmo agora ainda temos muito o que aprender com o que vivemos nos anos 90.

Que conselho você daria para alguém que está começando a carreira agora?

Meu conselho é, seja sempre você mesmo. Não tente ser o Martin Garrix, nem tente tocar o tipo de música que ele toca, porque que é único no mundo. Seja você mesmo e tente criar seu próprio estilo de música. É algo muito raro de ser encontrado hoje em dia pessoas que realmente acreditem em sua essência e tenham algo único é diferente do existente no mercado

Se você pudesse resumir a fórmula do sucesso em matemática qual seria ela?

Seria que 1 + 1 = 2. Sabe, muita gente pensa que porque tem apenas um único sucesso, que é algo grande naquele momento, pensar que já chegou no topo mas isso não é a realidade, portanto, não tente inventar coisas, não tem jeito: 1 + 1 sempre será 2.

A forma como vemos a cena eletrônica mudou: hoje quando nós vamos para um festival, nós experimentamos algo completo é uma mistura de cenografia luz fogos de artifício, qualidade em som e serviços e claro boa música com os DJ’s. Na sua opinião qual a importância para o mundo desses festivais? Onde foi a sua maior apresentação?

Meu maior público foi quando pude participar da “Street Parade” em Zurique, onde 250.00 pessoas puderam me escutar. A importância dos festivais é trazer os mais diferentes tipos de pessoas ao mesmo lugar para escutar coisas diferentes. O que quero dizer é que a cena ainda está crescendo; A música eletrônica ainda não é entendida por qualquer um. Muita gente ainda vai pela primeira vez e descobre vários tipos de coisas diferentes que até então nunca havia imaginado escutar antes.