Balada, mais que entretenimento, é empresa

Dar festa é uma arte, um dom, ou algo do tipo que acredito ser inato. Existem pessoas que nasceram pra isso, e dominam o assunto tanto na teoria como na prática como nenhuma outra. Já parou pra pensar nas melhores festas que você foi? Por que será que elas foram as melhores?


Dar festa é uma arte, um dom, ou algo do tipo que acredito ser inato. Existem pessoas que nasceram pra isso, e dominam o assunto tanto na teoria como na prática como nenhuma outra. Já parou pra pensar nas melhores festas que você foi? Por que será que elas foram as melhores?

 

Acho que o que faz um lugar ser inesquecível é um conjunto gigantesco que coisas. Excluindo o fator quase unanime de “quem faz a balada é a gente – nosso estado de espirito, nossos amigos, nossa energia”

Apesar de vermos uma evolução notável nas festas brasileiras, acredito que um ponto crítico em termos de entretenimento é saber distinguir até onde as pessoas que fazem com que aquilo se concretize veem como trabalho ou diversão. Não estou aqui criticando ou apontando o dedo na cara de ninguém que gosta do que faz, muito pelo contrario. Já li várias vezes que quem faz o que gosta de verdade, não tem que trabalhar nenhum dia, e com certeza isso faz toda diferença. Porém, acredito que tudo deve ser realizado com seriedade, e balada, se está aberta é porque dá lucro, e se dá lucro, é empresa.
Quantas vezes você já se deparou com atitudes não profissionais dentro de uma casa noturna, seja de promoter, gerente, segurança, vallet, DJ, ou alguém que faça parte da equipe de funcionários, vulgo “staff”? As vezes tenho a impressão que questões estritamente pessoais são mais valorizadas do que atitudes corporativas, sendo subjulgadas a mero interesse. Sempre tem um querendo puxar o tapete do outro, apontar os defeitos, revirar feridas, se promover a qualquer custo. Acho que está na hora de parar de pensar e começar a agir conforme seu papel – consumidor tem seus direitos, mas não é dono da verdade, funcionários, independentes de que setor sejam, tem suas responsabilidades e deveres a serem cumpridos, faz parte da questão “trabalho”. A maior prova disso é o numero de casas noturnas que abrem e fecham suas portas anualmente. Pense em quantos lugares você já foi, que mudaram de nome, de administração (e mesmo assim parece que não mudaram em nada), e que encerraram suas atividades.

Uma das impressões que tenho, é que se profissionalismo fosse levado a sério em alguns lugares, muita coisa mudaria. Reconhecimento por exemplo. Poucas são as baladas que reconhecem seus reais profissionais – colaboradores que individual ou coletivamente estão preocupados com o negócio e com a sua excelência, e que conseguem manter questões particulares em casa. Como eu já citei em outros textos, o que pega hoje mesmo é o conformismo: se deu lucro, continua. Inovar, surpreender, não é uma constante, se agrada desse jeito, nem que seja apenas no inicio, está bom. Isso também não quer dizer que quem acertou uma vez acertará sempre, mas estar atento e ser sensível quanto ao mundo ao seu redor, com certeza muda muita coisa, pois em consumo, nada é tão bom que não possa melhorar, afinal nós mesmo aprendemos novos conteúdos, ou incorporamos novos hábitos diariamente, seja isso perceptível ou inconsciente.

E nem precisa ir muito longe, a tirar por quantas vezes lemos em noticiários, ou sabemos que seguranças bateram em alguém por ser gay (num país onde o presidente da comissão dos direitos humanos é quem é, não espanta muito, mas abaixar a cabeça para esse tipo de coisa, ao menos pra mim é impossível), ou motoristas de vallets que ficaram rodando com os carros enquanto os donos acreditavam que seus carros estavam parados em estacionamentos, ou DJ’s que tocam porque são meramente conhecidos de alguém que manda (refiro-me áqueles que visivelmente não tem qualquer feeling pra entender os sinais da pista, do ambiente ou de mixagem mesmo) ou promoters que fazem qualquer coisa, menos promover de forma positiva o clube.
Mais uma vez reitero que independente do local, da profissão, do ambiente, no staff “laranja podre” existe – e proporcionalmente um consumidor folgado, desmedido, rei da razão, barraqueiro, daqueles que saem de casa pra arranjar confusão e desentendimento por onde passam. Porém, está na hora de por em pratica algo simples:

balada é empresa. É um local onde se oferece entretenimento, e paga-se por isso (muitas vezes caro, ou pelo menos por um custo – beneficio compatível a um serviço que acreditamos ser de alta qualidade). Mas isso é chover no molhado. Quero ver mesmo é quem consegue manter suas portas abertas, atrair novos frequentadores, impressionar os antigos, ser excelente, respeitoso e transparente com quem paga e com quem recebe. Afinal, não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.