Las Bibas From Vizcaya: Patrimônio cultural das pistas

Numa entrevista exclusiva, o maior nome da cena LGBT mostra-se autêntico e único, e nos da detalhes da longa estrada que percorreu até ser reconhecido nas pistas.

Sinônimo de música boa, ela é referência na cena LGBT e a mais famosa DJ Crossdresser do Brasil. Las Bibas From Vizcaya, a drag DJ, é sucesso por onde passa. Com um som alegre, recheado de hits e remixes que quase sempre são exclusivos (pois são produzidos por ela mesma), vem se destacando a cada ano e foi o maior nome de 2018 nas pistas do Brasil.

A história de Las Bibas From Vizcaya inicia na Europa em 2003, quando tocou pela primeira vez em Barcelona.  Já no Brasil debutou em 2006 na festa carioca “B.I.T.C.H.” na Fundição Progresso. Em seguida veio a abertura do “Festival Mix Brasil” no “Clube Vegas” em São Paulo e depois disso… você já imagina! Já se apresentou pelos principais cenários e clubs de música eletrônica LGBT no Brasil. Envolvida com produção de música eletrônica há mais de 20 anos, o ano de 2016 foi um divisor de águas. Las bibas foi grande destaque na semana da festa Acquaplay em SP, na estreia do projeto “Xtra Hours” do clube The Week, onde segue como DJ residente até hoje.

Performática e irreverente, em 2017, levou seu som para diversos lugares do Brasil e do mundo. No dia 2 de junho de 2018 surpreendeu a todos em uma apresentação incrível e com uma das tracks de maior sucesso na história do tribal house, Divadrag, música autoral com os vocais de CdaMore – se tornou um fenômeno e ganhou as pistas do mundo. Nós batemos um papo exclusivo com ela, falamos da cena noturna, sua bem sucedida carreira, e muita música claro. Confira:

Pra  começar nosso bate-papo… Conta pra gente, como surgiu o projeto Las Bibas From Vizcaya?
De uma brincadeira despretensiosa nas horas vagas do Studio de um amigo quando eu fazia meus primeiros experimentos (ainda analógicos) e engatinhava na produção musical.

Quais foram suas inspirações artísticas no início da carreira?
Meus ídolos  foram Pet Shop Boys, Depeche Mode, Erasure, Cocteau Twins, The Smiths, Donna Summer, Giorgio Moroder e Madonna.

E hoje? Quem são os artistas, ou o que te inspiram?
Eu tento ouvir coisas fora da “casinha” , indie/nu-disco , House de Raiz (rs)… Tenho ouvido no repeat desde que saiu o álbum novo da Robyn “Honey” que é uma aula do inicio ao fim. Eu diria que uma obra-prima pop!

Você criou um novo jeito de se comunicar, se apresentar e interagir com o público de forma super bem humorada… de onde vem essa inspiração?
Muita coisa vem da minha natureza de rir de mim mesma, do conceito que rir é a melhor maquiagem pra alma e pro corpo. Junto a minha acidez natural, acho que muita coisa vem da própria noite… do que vejo!

Você se preocupa sempre em trazer informação para as pistas, sobretudo pra galera mais jovem que passa a conhecer parte da house music através de seus sets. De que forma você vê a cultura de club sendo trabalhada no Brasil?
Me sinto sozinha nessa guerra. Acho que 95% dos DJs atuais são todos “control C+V” uns dos outros. A fonte de pesquisas dessa nova geração é o podcast do amigo, do DJ gringo famoso (e quase sempre nem é tão bom). Eu vejo uma total falta de respeito com a “cultura de club”, com o que a cena Gay representava no passado e na grande “confusão” que se transformou hoje em dia.

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Nos últimos meses você criou o fenômeno Divadrag, uma música que já existia e veio com uma nova roupagem… O que o projeto “Divadrag” representa pra você?
Divadrag não virou um projeto, é apenas um single que resolvi relançar (aproveitando hoje a fama que adquiri). Quando escrevi a letra cerca de 5-6 anos atrás (que fala sobre mim mesma) vi na hora um hit em potencial (porque tinha o que todo hit gay precisa pra ser um hit: uma letra legal, um refrão chiclete + o vozeirão da CdaMore). A gota da cereja foi o remix que o VMC fez. Ai pronto o estrago estava feito! rs

Divadrag te colocou em uma posição de grande destaque não só no cenário nacional, quanto internacional também.Como você avalia esse momento atual?
Sabe aquele ditado  “PLANTE GATA, QUE A COLHEITA VEM UM DIA“… Pois estou colhendo tudo que fiz nesses 12 anos de vida do projeto Las Bibas From Vizcaya. Aliado a isso, claro, veio a projeção que o meu club (The Week) me proporcionou quando passei a ser um dos DJ residentes. A The Week por ser uma referência internacional, fez a minha projeção no cenário aumentar, porque bastou eu me apresentar 1 vez na The Week e todos passaram a me ver com outros olhos (ate de credibilidade por ser uma Drag tocando) e assim vários promoters e clubs que nunca haviam me chamado antes, hoje me convidam para tocar.

CdaMore tem uma voz maravilhosa e as músicas de vocês tem sempre um encaixe perfeito. Como é a dinâmica de trabalho juntas?
A dinâmica é: eu escrevo, eu produzo e eu canto com minha voz de PATO PURIFIC (até porque DEUS não dá tudo pra mesma pessoa) mando a música pra ela, ela enfia no iPod e fica cantando. Quando ela se sente pronta pra gravar, marcamos e gravamos, e a partir dai eu finalizo a track.

Você planeja reviver outras músicas em parceria com ela, como por exemplo Perfect Star?
Sim! Irei ressuscitar todas que passaram “desapercebidas” na época. Tenho 10 TRACKS já gravadas com ela. O que talvez já me faça lançar um álbum (com versões curtas), desse álbum ir extraindo vários singles para 2019 e convidando amigos e colegas produtores para remixarem.

Na sua opinião, um DJ pra ter sucesso TEM QUE necessariamente PRODUZIR?
Não. Mas tem seu peso, e se torna uma via de mão única.

Sua apresentação na festa We Mantra em São Paulo foi bem marcante. Qual outra gig você destaca durante toda sua carreira?
Na We Mantra começou o boom “Divadrag” e foi um festa realmente inesquecível. Outra que me arrepiou até a peruca, foi minha estreia na TW, porque era uma dupla estreia: minha e do projeto Xtra Hours. (Nos lembramos com riqueza de detalhes: a entrada apoteótica, com cabelos loiros em um corte chanel, figurino cravejado em cristais reluzentes deram o tom de uma entrada sem precedentes as 8 da manhã na pista Babylon, com um set tribal/ progressive que nos deixou por horas a fio eufóricos e dançantes!)

Quais ingredientes necessários para uma boa festa?
Começa com um bom flyer (o flyer diz tudo de uma festa), um bom line up (e sobretudo coerente), um som poderoso de qualidade e uma divulgação precisa aliada a um bom marketing.

O ano de 2018 foi um ano muito interessante pra você. O que podemos esperar de Las Bibas para 2019?
2019 de cara já tem um single em parceria com a dupla Altar e CdaMore logo para janeiro recheado de remixes de gringos porque queremos ampliar o alcance do single sob diversas pistas.

Pra finalizar: Agora é a vez é das drags? Como você vê o sucesso das drags hoje no Brasil?
Acho o sucesso das drags no Brasil ainda muito pop. Tudo gira em torno de Rupaul e Pabllo Vittar. Bastar ver que na cena house quase não existe DJs Drags (apenas na cena pop).


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