EDC – Uma sexta feira histórica, alinhada ao Brasil, com o reinado de Tiesto

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A primeira edição do Eletric Daisy Carnival Brasil, que ocorreu no final de semana no autódromo de Interlagos em SP, foi o ultimo grande evento direcionado à musica eletrônica no país, num ano que, além de histórico, foi um divisor de águas no segmento.

Anunciado desde meados de julho, o festival é conhecido especialmente nos Estados Unidos, onde tem edições em Nova York, Orlando, Las Vegas, e reúne DJ’s de diversas vertentes, bem como grandes nomes da estigmatizada e popular EDM em seu palco principal, onde seu mascote é uma simpática e multicolorida coruja. Além da expectativa, o festival gerou no Brasil muita discussão nas redes sociais acerca de seu line-up. Teve quem disse que foi fraco, (nomes muito queridos como Axwell e Armin Van Burren não foram escalados nesta edição, já que já estavam integrando o Stereosonic, um dos festivais mais conhecidos da Austrália) porém, desde o início, apostei que as escolhas foram ótimas – o que de fato, aconteceu durante o evento. Vale lembrar que um dos intuitos do festival é sim, além de reunir gente interessante, apresentar também novos estilos que são desconhecidos por alguns, bem como reforçar a imagem dos grandes nomes, através de propostas diferentes.

A ida ao autódromo foi tranquila, e a insistência por parte da organização na preferência via transporte público teve uma razão clara: não havia estacionamento oficial, e os locais mais próximos não contavam com qualquer tipo de segurança – algumas pessoas chegavam a cobrar a “bagatela” de R$ 150,00 por uma vaga a esmo na rua. O melhor mesmo foi ou optar por transporte público (considere que a sexta de SP é o caos no transito) ou o transfer para o autódromo realizado a partir dos hotéis credenciados. A entrada também foi calma e organizada, mesmo com a bilheteria de retirada dos ingressos sendo um pouco distante do portão principal de acesso (para quem optou por retirar lá, ou comprar na hora).

A proposta do festival é distinta e contou com inúmeros pontos positivos. Logo na entrada, já avistou-se um “ponto de hidratação” – houve além de drinks nos bares, distribuição de copos de água gratuitamente, e de forma organizada (tratamento habitual dado fora do Brasil). Na entrada também podia ser avistada a lojinha do evento, e como não amar os bonés, que custavam R$ 60,00, caíram no gosto da galera, bem como as simpáticas coroas de flores e adornos para o cabelo, regatas e camisetas. Food Trucks também estavam a disposição (considere que cada dia teve 12 horas de duração, das 18 às 6) com várias opções.

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O Neogarden, palco dedicado principalmente aos amantes de deep e tech house, apesar de contar com estrutura sem muita “firula”, era lindo, com imensos painéis de LED, além de muita qualidade no som – por volta das 9:30 o palco foi estrelado pelo duo sul africano Goldfish, que comprovadamente, tem um talento nato tanto para a criação e produção musical quanto para apresentações realizadas com instrumentos musicais ao vivo, além de musicas maravilhosas (sobre “Heart Shaped Box” – apenas escute e ame).

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No caminho para o KinecticField contava com uma entrada lateral para a área VIP. Acesso também tranquilo, o local coberto (detalhe que fez muita diferença no sábado em a chuva que deveria encher todo o Cantareira caiu lá no autódromo) era extremamente confortável: mulheres com looks impecáveis e saltos de dar inveja, bem como homens que mais pareciam esculturas gregas desfilavam entre as poltronas, com decoração clean e sofisticada, além das performances das simpáticas modelos e bailarinas que sorriam o tempo todo e posavam para vídeos e fotos. O banheiro todo branquinho, com espelho, cheiroso e limpo, era uma atração a parte, e incluso no “pack conforto”, fazia valer cada centavo investido pelo setor diferenciado. Porém, o que faz a festa, com certeza, é quem está na pista. Apesar de sexta feira contar com um número expressivamente menor que no sábado (especulações dão conta de 90.000 pessoas nos dois dias), a festa não deixou nenhum pouco a desejar: os brinquedos, cuja entrada era gratuita, nos fazia sentir criança, em filas que duravam cerca de 15 a 20 minutos, e deixava o local além de mais bonito e iluminado, muito mais divertido. Este foi outro ponto que, evento nenhum realizado no Brasil, conseguiu chegar aos pés.

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No KinectField, palco principal do evento, duas corujas bem grandes posicionadas nas laterais do palco, fazem a cenografia, alternada com painéis de LED que sugerem as janelas de uma catedral. Efeitos pirotécnicos como lança chamas e fogos de artifício alternam-se com chuvas de papel picado na sexta feira, além da coreografia de bailarinas com fantasias que lembravam passistas de escola de samba em tons de cristal e vermelho, um mago com “super poderes” e bailarinos que aos poucos, contavam a história do festival (que na próxima, poderia ser em português, afinal, na empolgação, nem todo mundo entende o que é dito, não é mesmo?).

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Agora, os olhinhos das corujas, foram demais! Em movimentos que se alternavam entre focar entre direita, esquerda e para cima, eram um espetáculo a parte! Impossível olhar para ela, de qualquer ponto que fosse, e não imaginar que elas estavam acompanhando nossos movimentos (ou virar para um amigo e, as gargalhadas, chegar a conclusão de que “elas estão nos vigiando”).

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A proposta de ser um evento “alinhado do Brasil“, como foi sugerido no título da matéria, também tem sua razão: para o palco central, nomes nacionais como ALOK, Felguk, Vintage Culture e DJ Marky  foram selecionados, o que, particularmente, são além de nomes referencia, também motivos de orgulho e prestígio da cena nacional. ALOK, como se é exaustivamente repetido, é filho dos criadores do Universo Paralelo, e proporcional a responsabilidade que tem é seu talento que tem com música, em que, conseguiu conquistar fãs até então impensáveis. Felguk, dupla composta pelo duo de DJs e produtores cariocas Felipe Lozinsky e Gustavo Rozenthal, levou o nome do Brasil à Tomorrowland belga, numa época em que nem se imaginava a realização de eventos do tipo aqui.

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Lukas Ruiz, nome real de Vintage Culture, elevou a produção e valorização da música brasileira a níveis de qualidade jamais vistos na cena eletrônica nacional anteriormente – é, além de um fenômeno, um case de sucesso, um exemplo de dedicação ao estudo e ao trabalho. E Dj Marky, veterano na cena, levou o drum n’ bass e o país, a ser conhecido em Londres, e consequentemente em todo o planeta, pela sua paixão e conhecimento técnico irretocáveis pela música, pelos discos de vinil, sendo além de um ídolo, também referencia a décadas às novas gerações.

Na sexta feira, vale os destaques para (quem conseguiu enfrentar o horário de pico), primeiro Felguk, que tradicionalmente interage e é sinônimo de fervo em suas apresentações; Arty e Audien em suas apresentações seguintes, entoaram hits da EDM e também tem sua parcela de contribuição, porém, a maior parte do público, chegou mesmo a partir das 22 horas, já que um dos nomes mais aguardados da noite seriam as irmãs australianas Nervo, que sempre exalam simpatia. Com pontualidade britânica, as meninas entraram no palco as 11:30, e apesar de sempre serem muito receptivas, houve certa frustração, já que, grande parte de sua apresentação, foi praticamente idêntica ás apresentadas em suas outras duas vindas ao país nos últimos 6 meses (claro que isso não tirou o brilho delas, não menospreza a beleza, o carisma, a atenção com o público, mas escutar a mesma coisa do mesmo jeito nos primeiros 30 minutos não foi uma escolha exatamente brilhante).

Martin Garrix, subsequente, é um exemplo do talento das “novas gerações”. No alto de seus 19 anos de idade, o alemão, com mais de 11 milhões de seguidores no facebook, sempre vem com propostas diferentes para o hit que atingiu o primeiro lugar como música mais tocada em mais de 10 países – os acordes de “Animals” soam quase como uma injeção de adrenalina na multidão, e a todo tempo se houve “esse cara é muito bom!” (rs). Durante toda sua apresentação, não teve quem tirasse o pé de lá, fazendo com quem cada minuto se tornasse ainda melhor. Porém, a estrela absoluta da noite com certeza foi o holandês Tiesto.

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O que falar a respeito da pessoa que teve a maior audiência do planeta, com público estimado de 4 BILHÕES DE PESSOAS durante a abertura dos jogos olímpicos de Athenas? (Aliás, você sabia que foi a partir dessa apresentação que veio a grande motivação para que Martin Garrix, até então com 8 aninhos de idade, visse no mundo eletrônico um hobby e começasse a tocar?) O que falar do homem que é uma referencia para a música eletrônica global, que está em todos os melhores festivais do gênero, que tem residência nos maiores clubs do planeta, que tem uma linha de roupas e acessórios lindas, que tem um podcast semanal chamado “Clublife” que sempre impressiona, que é do deep, do trance, do tech, que não precisa de rótulos, que tem um sorriso maravilhoso, e que tentamos achar defeito e não conseguimos? Pois é, acho que não sobrou muito.

Durante sua participação, sem muito blá blá, Tiesto mostrou apenas por que não deixa brecha para erros e desculpas. Tocou “Chemicals” em sua colaboração com Don Diablo, viradas incríveis com a deliciosa “Secrets“, fez o povo se esgoelar com “Red Lights” e se arrepiar da pontinha do dedão ao ultimo fio de cabelo com o hino “Adagio for Strings“. Incluiu também “Empire of the Sun“, e até a novíssima “Hello” de Adele – fucei em vários lugares mas infelizmente não achei o live set para colocar aqui, porém a busca continua! Após ele, as meninas do Krewella, com som mais pesado, não deixaram a desejar – subiram, desceram, pularam, falaram com a galera, e deixaram sua marca. Porém, outro grande  talento que vale também o destaque foi Dash Berlin.

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O dono de remixes tocados inúmeras vezes ao redor do planeta como sua versão de “Are you with me” do Lost Frequencies, e a mundialmente conhecida “Waiting” fez com que a uma hora de duração do seu set mais parecesse poucos minutos. Vindo da escola do trance, a apadrinhado por Armin Van Buuren, de onde também é do selo “Armada”, Dash é popular no norte da Europa. Quem o conhecia aguardava muito a sua vinda ao Brasil, e os que não os conhecia perguntavam para os outros “quem é ele? quem é ele?“. Apostamos que essa, com certeza, será a primeira de tantas outras, já que, com certeza, seu número de fãs aumentou consideravelmente.

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Klingande foi o responsável pelo encerramento da sexta feira, com um set suave, conciso e muito gostoso – além de trabalhar em cima de vertentes fora do Big Room (o famoso grave repetido e bem marcado que é um dos motivos de cansaço da EDM), integrou a sua performance a apresentação ao vivo um músico com saxofone, alavancando altos elogios dos mais atentos e, deixando na galera, o gostinho de quero mais para o sábado.

*créditos das fotos – perfis oficiais do fb: EDC Brasil e artistas citados.