Esses dias, em conversas informais com os amigos, estive escutando sobre algo que constantemente tenho reparado em algumas baladas: afinal, o que anda acontecendo com os DJs? Confira a opinião da nossa colunista Carina Garcia.
Esses dias, em conversas informais com os amigos, estive escutando sobre algo que constantemente tenho reparado em algumas baladas: afinal, o que anda acontecendo com os DJs? Calma, antes de ter qualquer resposta, positiva, negativa, parcial ou imparcial sugiro que considere vários pontos de vista, coisas que eu li, ouvi ou que acho mesmo.
Primeiro considerei o fato de estar mais exigente – o que muda muita coisa. Quando começamos a sair, tudo é novidade, tudo é atrativo, e (eu, pelo menos) não contava com muitos parâmetros de comparação)) se não se conhece , como dizer que algo é bom, melhor, mais interessante ou atraente? A partir do momento que você já se identifica com ambientes, pessoas e sonoridades, o patamar muda, e então reparamos em detalhes até então não percebidos.
Nesse momento que entra algumas das possíveis respostas, no que tenho reparado em casas noturnas. Como disse anteriormente, quando a gente gosta do som de algum DJ, começa a reparar no que ele toca, da forma que toca, nos detalhes de seu set. Sabe se é ele que está em cena por características únicas que cada um tem, seu estilo, suas viradas, suas viagens, sua vibe. Porém, o que tenho reparado é que num mercado tão estigmatizado, saturado (sim, afinal, quantos “pseudo-DJ’s” – aquelas pessoas que colocam headphones, fingem que tem qualquer conhecimento, colocam uma mídia pronta pra tocar e fazem um teatro “incrível” – você conhece?), ao mesmo tempo em que brasileiros estudam, escutam diariamente horas e horas de música, produzem, se aprimoram, batalham por seu espaço, a contrapartida também ocorre, e com mais constância do que eu imaginava. O que aparenta é mais ou menos o tal do “em time que está ganhando não se mexe”. O cara toca um set, com músicas boas, talvez uma ou outra novidade, é bem aceito, ok. Se voltar após meses a vê-lo novamente, reparo que as músicas continuam as mesmas, trocando-se apenas suas respectivas posições no set. Sei que é difícil, num ambiente em que se tem a pressão de tocar ao vivo, agradar o publico, atender alguns pedidos, manter sua identidade sonora, estar concentrado, manter-se ativo, atrativo, interativo. Mas também acredito que inovação é necessária.
O consumo mudou, e os frequentadores de baladas, ouvintes, fãs de música, consumidores, também mudaram, deixaram de ser alienados, indiferentes e sei que isso não é obvio só sob meu ponto de vista.
Do mesmo que eu vejo talentos por aí, DJ’s que fazem com que cada apresentação sua seja única e memorável, vejo outros que aparentemente estão em sua zona de conforto, por terem algum reconhecimento, certo prestigio ou algo do tipo, e não parecem estar preocupados em fazer seu melhor. Como profissionais, ás vezes portam-se como amadores diante do publico, que, repito, está muito mais exigente e atento ao mercado. Com tantas opções, num momento pode-se estar no topo, e no outro, esquecido. Mas quem é profissional mesmo, consegue manter seu equilíbrio para ouvir, tocar, se ajustar, inovar, mudar, recomeçar, ou simplesmente continuar em sua estrada, aguentar as pressões, mudanças, intempéries do “mundo artístico”.
E não me venha com esse blá blá blá de que brasileiro tem mania de supervalorizar a gringa. Sabemos que temos verdadeiros mestres em solo brasileiro, que não deixam nenhum pouco a desejar quando estão no auge de suas inspirações, e que constantemente são exportados a diversas partes do planeta – como as famosas festas em Ibiza, Barcelona, Londres, e festivais de proporções gigantescas como a belga Tomorrowland. Mas eles também tem seus dias ruins, afinal, são gente como a gente não é mesmo. E o intuito deste não é criticar ninguém, e sim alertar que estamos de olho, somos exigentes, fazemos questão do melhor, afinal, acredito que apontar o dedo é fácil, mas achar uma solução construtiva é raro.
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Foto 1 – Felguk, dupla formada por Felipe Lozinsky e Gustavo Rozenthal, figurou entre os melhores do mundo pela DJ Mag inglesa, além de tocar em 2012 na Tomorrowland.
Foto 3 – Rey Vercosa, brasileiro que toca mais de 15 instrumentos, e já se apresentou nos principais clubs de Ibiza, como a Privilege, Pacha, Amnesia e Space.