Caipiras, camisas xadrez, puxam o “R”, ganham milhões e conquistaram o mundo. Eles são: Os Sertanejos! – e você vai ter que aceitar isso!
Nos últimos anos temos visto uma enxurrada de Brasil tomando conta de uma série de espaços artísticos ao redor do mundo. Estamos exportando cultura aos quatro cantos de Terra que já reverenciou os precursores Carmem Miranda e Tom Jobim (artistas de maior projeção e repercussão no exterior).
Atualmente vimos alguns artistas, já populares no Brasil alçarem voo no exterior.
Mas qual a receita para esse sucesso todo? Por que o mundo se interessaria por Ivete Sangalo, Banda Calipso, Criolo, Mariana Aydar entre outros tantos artista? A resposta pode estar nas roupas tradicionais de certos países himalaios. Nas regiões mais frias do globo, vemos que a população local tem a tendência de expressar em suas vestes o que lhes falta em seu meio, ou seja, cores, alegria, festa, e estes quando pegam pra fazer festa, meu amor… é festão, não como no Brasil, obviamente, mas para os padrões locais é festa e alegria.
Mas e quando esse ritmo todo e essa “cor” toda começam a saturar? O que fazer quando sua própria cultura já não é mais capaz de aplacar sua sede de “alegria”? Você faz o quê? Vai pra Ibiza? – Se for jovenzinho e com dinheirinho, pode até ser, mas levando em conta que a maioria da população mundial consome cultura a partir de suas casas, precisamos entender de que forma a cultura da alegria chega até elas e como são suas facilitações.
Tem uma série de aspectos que poderia explorar aqui, mas para não tornar nossa leitura maçante lançarei mão de um breve resumo sobre os itens que levaram os rapazes da imagem acima a serem um produto típico brasileiro do tipo exportação.
MÚSICA SERTANEJA
A última coisa que esses garotos fazem é produzir música sertaneja, já que o “Sertão” e sua cultura é bem diferente do que é propagado pelas letras e melodias das canções executadas por eles. Especialistas da cultura musical brasileira entendem que a música sertaneja refere-se ao homem do sertão brasileiro, local afastado dos grandes centros urbanos, cuja vida do homem que ali reside é cheia de hostilidade climática, ambiental e de compreensão de liberdade, cujos mandos e desmandos ficam a cargo de poucos “coronéis” que ditam as ordens do lugar. Sendo assim, cultura sertaneja está mais para a vida da Caatinga (Norte e Nordeste do Brasil) do que para a vida “caipira”.
MÚSICA CAIPIRA
Já a cultura caipira diz respeito ao homem do campo que vive sob as benesses do rio abastado de peixes, da terra, que arada com a força de seu braço lhe dá o de comer; do fim de tarde na varanda de uma casa de sapê ou pau-a-pique. A música caipira é predominantemente romântica, algo como o parnasianismo para a literatura, se pudermos fazer essa analogia. A cultura caipira trata da calmaria do interior do Brasil, das matas, dos animais, dos amores e da relação do homem com sua deidade. Outra predominância da cultura caipira é tratar dos temas de sua atualidade, sempre com suavidade e muita elegância.
A MISSIGENAÇÃO MUSICAL
Por nosso país ter proporções continentais e termos um povo ~unido~, é normal que as culturas locais se fundam e produzam novas culturas, seja em razão da emigração ou pela riqueza cultural se que se vê na fusão de dois objetos distintos.
Se observarmos o sul do país veremos que algo indissociável da cultura sulista é o acordeão ou gaita, que também faz parte da cultura dos colonos imigrantes, e que no norte e nordeste tem o nome de sanfona, imortalizada por Luiz Gonzaga, Sivuca e Hermetto Paschoal. Se dermos uma melhor olhada no norte e nordeste veremos ainda mais forte a presença dos instrumentos de percussão, em razão da presença dos quilombos que, resistindo ao tempo, passaram sua cultura musical para as gerações futuras, cuja maior força estava no batuque dos instrumentos feitos com couro animal esticado sob um cilindro de madeira, de maior ou menor profundidade, dependendo do som que se quisesse produzir.
Já no interior de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná, veem-se a forte marca da viola, ou sua versão local, a viola caipira e seu som inconfundível.
Pronto! Eis a receita para a febre da alegria e riqueza cultural que se vê hoje e podemos dizer que tudo isso junto é O BRASIL!
Percussão, Gaita, Viola… o choro romântico e o jeito elegante de falar das mazelas e necessidades do homem, colocada em uma linha de produção da industria da cultura musical que se preocupa em fazer vender – e não em fazer pensar – faz com que a atual música brasileira seja o som perfeito para ser levado ao exterior, carente de novidades.
CENÁRIO MUNDIAL
U2 não é mais o mesmo, os Beatles se foram, Madonna só arruma confusão, Lady Gaga é um ser incompreensível, Beyoncé é uma mistura de Whitney Houston com Michael Jackson e que não representa muito para a maioria da população mundial, aí então você resgata o acordeão, tão presente nas culturas do meião europeu, aquela levada de viola chorosa, bem coisa de fado e com letras que trazem quase as mesmas mensagens e bota o batuque que não deixa ninguém parado… eis que você toca o coração das pessoas por caminhos inúmeros. Uns vem pela sonoridade – embora seja a quarta língua mais falada do mundo, ninguém entende o português -, outros vem pela lembrança melódica de suas raízes culturais e outros estão ali porque também tem gente ali e dane-se o motivo, o que eles querem mesmo é celebrar.
“EU QUERO…” É ENTENDER A LETRA
No Brasil, temos uma mania estranha de depreciar nossas próprias produções, ou como diz o dito popular, “santo de casa não faz milagre”.
Há um sem número de brasileiros que fazem cara de nojinho pro Tchu TchaTcha do Neymar ~cê sabe de quem eu to falando, vai~. Há outros que cantarolam músicas americanas como se fossem tradutores da língua e na verdade não entendem nada e ficam cheios de mi mi mi quando o assunto é o tchê tchererê tchetche.
Vamos combinar que toda essa quase onomatopeia musical é um miojo pra gringo comer? Afinal tem coisa mais fácil de gringo falar do que isso?
Tche tcherere tche tche!
Tchu tchatcha tchu tchutcha!
Ai ai ‘sit pégoo’
Estes recursos da linguagem são comuns ao nosso povo e nos valemos deles diariamente para expressar ideias e nos comunicar, embora literalmente não tenham o peso da informação em si, ficando a cargo do receptor dar-lhe o valor e interpretação devidos. Com relação à questão fonética, é um prato cheio para quem mal entende a língua portuguesa.
Agora a gente pega aquele som todo que criamos e jogamos sobre ele esse “bê-á-bá” e ~os gringo pira~, e pira mais ainda se tiver shortinho, bermudinha e algo que lembre a sensualidade do Brasil.
MÚSICA CHICLETE “AI SE EU TE PEGO”
Você está indo para o trabalho ou fazendo qualquer coisa que seja e eis que uma música te vem à cabeça ou apenas o fato de ouvi-la sendo executada já é motivo para ela grudar e você passa horas com a danada reverberando na sua pobre cabecinha, pedindo a Deus que alguém lhe dê um tapa pra você cuspir aquele vício, só que não!
Essa praga tem nome e não é da música que estou falando, é da earworm, ou “minhoca de ouvido” em tradução livre. Essa expressão foi cunhada por James Kellaris, professor da Universidade de Cincinnatti – Ohio, EUA.
Quando estamos com a cabeça de boa, vazia, free, livre, basta pensar numa música que tenha essas repetições propositadas para passar o dia com a tal frase musical embrenhada nos neurônios. Para constatar tal fato, os cientistas de outra universidade americana: Darthmouth, selecionaram algumas pessoas para ouvirem música que, repentinamente parava. Se a melodia era conhecida do ouvinte, o córtex auditivo continuava trabalhando, relembrando a tal música. Se o indivíduo não a conhecesse, o cérebro simplesmente ficava ocioso aguardando novo estímulo, SÓ QUE… até esse novo estímulo chegar o cérebro, danado que só, tentava recuperar esse arquivo sonoro e fazia o coitado do ouvinte ~pensar~no que acabara de ouvir.
Toda vez que seu cérebro está desocupado, a tal música volta. Quanto mais ocupada sua mente estiver, menor será a probabilidade de um som chiclete, grudar em você. Se isso acontecer é porque você está completamente ocioso. Vá se ocupar, meu amor!
MÚSICA ELETRÔNICA Vs. “BRAZILIAN COUNTRY”
Tudo que faz sucesso nas rádios comerciais, ou quase tudo, acaba ganhando uma versão remix que vai parar nas pistas de dança dos clubes de música eletrônica. Se for sucesso mundial então, é uma migração quase inevitável.
Chegamos então a um ponto crucial. Nós, brasileiros adoradores da música eletrônica temos certa resistência em assumir e aceitar os vocais em português nos nossos sets. Eu particularmente ainda não entendi de onde vem essa resistência e devo sim botar a culpa nos deejays que se ocupam em propagar a cultura comercial e não dão muito espaço para a cultura local, e estou falando especificamente sobre os brasileiros e alguns latino-americanos. Já falei sobre isso num outro artigo aqui no PLUG.
O fato é que não há mais como dizer que o sertanejo não é algo mundialmente conhecido. Para quem só ouve ou produz música eletrônica até pode ser, mas meu querido leitor, Michel Teló e Gusttavo Lima estão à frente de Beyoncé, Lady Gaga, Adele, U2, Madonna, e muuuitos outros artistas em dezenas de países e isso não podemos negar. Os caras são febres mundiais, queira você ou não! E já que são febres mundiais, que geral tá ouvindo, comprando, curtindo, compartilhando, consumindo, buscando… por que não ganhar suas versões para pista?
Sem fazer cara de nojo hein…
Deixe de lado o seu preconceito e seja brasileiro. Sua raiz cultural é caipira ou sertaneja, isso é um fato. Você pode não se identificar com os valores dessa cultura, mas não significa que ela não tenha seu valor na construção da identidade brasileira que temos hoje e fazer cara de nojo é como se você assumisse ser um apatrita cultural. Te permito ter suas preferências, mas é inadmissível que você torça o nariz para aquilo que te formou, seu país, sua língua, seu povo, sua cultura, ou você é daqueles brasileiros que acha que tudo que vem de fora é mais bacana, é mais cult, é mais chique?
Tiësto, Armin, Depeche entre outros não nasceram escutando música eletrônica. Em seus países a cultura musical é quase uma obrigação e faz parte da grade curricular das escolas, coisa que está sendo discutida no Brasil em pleno século XXI. O que quero dizer com isso é que os caras são quem são no mundo da música por que tiveram que estudar música, ouvir estilos, entender as vertentes, solfejos, colcheias, clave de sol e fá, nomes estes que para a maioria dos brasileiros é ~grego~.
O que eu, Hector, estou esperando? Aparecer um DJ tão descarado quanto o Paulo Pacheco do clube theWEEK SP, quando resolveu remixar a área Habanera da ópera Carmem, assunto do meu debut aqui no PLUG e mostrar que, sim, é possível fazer música eletrônica de qualidade se houver desprendimento, liberdade e autoconfiança em seu trabalho como deejay. Enquanto isso não acontece, vamos continuar vendo daqui do Brasil, o sucesso do Michel, do Nivaldo – nome de batismo do Gusttavo Lima, da Paula, do Luan, lá no exterior e sem entender direito como os europeus, tão intelectualizados, estão consumindo essa música ~pobre~ – só que não.
Só para você entender: Os singles do coletânea Pista Sertaneja, com as principais músicas sertanejas em versão remix feitas pelo produtor Fabianno Almeida (Mister Jam) responsável pela ascensão meteórica da cantora Wanessa e produtor de outros artistas, tem mais de 5 MILHÕES de execução no YouTube, além de milhares de downloads em sites de compartilhamento de arquivos.
Quer ver?