Os DJs gringos abraçam de vez a cultura tupiniquim e tornam a música brasileira um sucesso no mundo todo!
“… E ele te pegou!”
Nos últimos dias todo o Brasil foi surpreendido por um fenômeno que até então passou despercebido pelo mundo e que ganhou o mainstream nacional nos idos tempos dos anos 80: a explosão da música sertaneja – vertente pop da música de raiz e grupos folclóricos da cultura do interior agrícola do país.
Mas o que está acontecendo atualmente com o “fenômeno” Michel Teló – que faz um estilo de música chamado de Sertanejo Universitário exatamente por utilizar nas canções, letras com maior identificação com o público jovem – não é algo que seja incomum à cultura brasileira. Embora tenhamos pouca repercussão no cenário pop internacional, nossa produção artística sempre foi vista com bons olhos por diversas culturas e devemos isso à Carmem Miranda, primeira brasileira – embora seja portuguesa de nascimento – a levar a cultura de nosso país para além de nossas fronteiras, tendo sido acompanhada por Elis Regina, que teve seu apogeu na apresentação memorável que fez no Festival de Montreux, onde dividiu o palco com outro gênio brasileiro e reconhecido internacionalmente por seu virtuosismo e multiinstrumentalidade, Hermeto Pascoal, além, obviamente dos dissidentes da Bossa Nova que se radicaram no exterior por falta de “terreno” para suas sementes no Brasil e incluímos aí nosso maior e mais recente expoente, Antônio Brasileiro Jobim aka Tom Jobim.
Não é segredo para ninguém que nós, brasileiros, temos uma inclinação a dar mais créditos aos produtos importados num sentido geral. E seguindo nessa onda mais recentemente a cantora brasileira, Wanessa, resolveu abrir mão da língua mais difícil e complexa do mundo em detrimento da língua da cultura mundialmente mais popular em razão da fácil compreensão das letras e a pela questão da diferença cultural, já que a língua é um dos bens mais preciosos de identificação e estabelecimento de determinada nação.
Neste sentido, embora tenhamos alguns exemplos de que para se fazer sucesso, principalmente para os cantores, é preciso que gravem suas canções em inglês ou espanhol, a cultura brasileira tem vivido uma primavera revitalizadora. “Ai se eu te pego” é a expressão mais clara da popular cultura brasileira a ser levada para o exterior e ganhar repercussão e é cantada pelo mundo no bom e velho português tão mal falado por seus filhos.
Antes mesmo de Michel Teló, canções brasileiras já estavam sendo levadas ao exterior e executadas para um público distinto. Não estou falando das grandes casas de shows e platéias endinheiradas. O público a que me refiro é a galera das baladas mesmo. WE PARTY, SPACE IBIZA, MATINEÉ GROUP, ORANGE GROUP, entre outras labels e producers.
No carnaval de 2011 todos fomos surpreendidos pelo deejay espanhol, Juanjo Martin, executando um dos hinos da maior revolução popular do último século no Brasil, a canção “Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores” de Geraldo Vandré e que foi cantada no set pela cantora Simone – enquanto todos criam ser Elis Regina, que, aliás, nunca gravou a canção – entoada como chamada ao movimento contra a Ditadura Milita que imperava no Governo Brasileiro. O público se identificou tão fortemente com a canção brasileiríssima, que houve um verdadeiro frisson nos momentos subseqüentes a execução deste som. E não foi só isso! Outros deejays também abraçaram a cultura tupiniquim e a puseram em seus sets, tais como Nacho Chapado, Micky Friedmann, Ale Amaral, Danny Verde, Paulo Gois, David Morales entre outras estrelas de diversos tamanhos na cena eletrônica.
Não pense você que pegaram Wanessa, Alexa, Lorena, Amannda, Nicky Valentine, Joe Welch ou outra cantora que dedique seu trabalho às baladas. Não mesmo! O que esses deejays estão fazendo é um resgate da cultura brasileira no sentido literal. Dos últimos sets que ouvi, tive o prazer de escutar Olodum, a bateria da GRES Beija-Flor de Nilópolis, Simone, Sérgio Mendes. Para quem, como eu, tem um senso de patriotismo que vem dos tempos em que ainda haviam colégios em se cantava o Hino Nacional às segundas-feiras, ouvir o português “brasileiro” sendo exportado e com canções que representam tão bem e de forma tão enriquecedora, nosso país, é algo que chega até a marejar os olhos.
Mas por que motivo me emociono?
Para os amantes e apreciadores dos deejays gringos, mais especificamente os espanhóis, é raro NÃO ouvir em absolutamente qualquer set de qualquer deejay, uma canção na língua nativa do cara.
O motivo é a cultura de promoção nacional e o orgulho em ser parte daquela língua e assumi-la publica e internacionalmente. Como disse acima, a língua é um dos itens mais importantes para a compreensão, identificação e estabelecimento de uma cultura, de uma sociedade, entretanto, nós, brasileiros, ainda não despertamos para essa realidade, ainda nos deixamos minar pela “globalização cultural” negativa.
Talvez seja importante aprendermos com o advento do Michel Teló que, para fazer sucesso, tal qual aqui, lá fora as pessoas precisam querer dançar o tal som, curtir a sonoridade, o balanço, a ginga e esse é um dos motivos pelos quais há tantas músicas brasileiras e em português orbitando os sets dos deejays gringos.
Aos nossos mestres da música saturnina, fica a dica do sucesso: Corram! Grandes eventos esportivos como Copa das Confederações, Copa do Mundo, Olimpíadas e Paraolimpíadas, trarão ao Brasil um sem números de gringos doidos para consumirem a cultura local, se fundirem a alegria e espontaneidade do brasileiro. Será ao menos educado que sejamos bons anfitriões e nos comuniquemos com eles, mas vamos combinar, quando brasileiro vai ao exterior que ver o quê? Mais brasileiros? Quer ver a cultura local, que vivenciar o cotidiano do povo, quer se sentir parte daquela nação.
Está mais do que na hora de valorizarmos a nacional cultural brasileira. E podem apostar numa coisa: os deejays que são deejays de fato vão se destacar ainda mais daqueles que são meros reprodutores de mp3.
E Viva a Cultura Brasileira que será consumida à granel no mercado que se desenha. E se você que é deejay acha tudo isso meio bullshit, porq a pista não responde a essas canções, fica nosso desafio para que você vasculhe o bom e velho bolachão em busca de um som de que te faça produzir e executar algo além do óbvio.
Aí sim eu poderei dizer que “we found love in a hopeless place”.
Quer conferir três sets com a “marca Brasil”? Acesse abaixo!
Micky Friedmann – Alemanha
Nacho Chapado – Espanha
Marcos Carnaval – Estados Unidos (mas o cara é brasileiro)