Preços de balada

Abusivos, inconscientes, inconsequentes…? Vale refletir.

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Abusivos, inconscientes, inconsequentes…? Vale refletir.
Pois é pessoal, mais um final de semana passou, e nessa semana, o assunto que reinou quase sempre foi o mesmo: saudades dos momentos vividos, risadas, e o clássico mau humor por não termos nascidos herdeiros, e infelizmente dinheiro não cair do céu.
Então resolvi falar um pouco a respeito da última opção: dinheiro. Todo mundo diz que “dinheiro não compra felicidade”… Não deve comprar mesmo, mas indiscutivelmente facilita várias áreas de nossa vida, desde nossa saúde, até nossa diversão. E quanto vale a nossa diversão? O que seria considerar algo barato ou caro? Será que o valor investido realmente vale a pena?

Observando algumas práticas comuns em casas paulistanas, chego a observações que não entram na minha cabeça:
1. Em que são baseados os preços de entrada e de produtos de uma casa noturna?
2. Será que os valores são realmente justos?

Cheguei a esse questionamento após visitar algumas casas noturnas em SP, que cobram 150 ou 200 reais por uma simples entrada – sim, apenas entrada, não consumação. Como a maioria das pessoas sabem, apesar de o Procon e o município de São Paulo utilizarem leis que proíbem a consumação mínima, os estabelecimentos praticam essa modalidade, porém com o aditivo de valor de entrada, que normalmente gira em torno de 3/4 ou metade da consumação. Realmente acredito que isso seja uma boa opção, porém a qualidade dos serviços prestados em vários lugares são inversamente proporcionais a quantia paga.

Fui numa casa noturna, localizada no Brooklin, dentro de um hotel. Observei que, pelo porte do hotel, da diária, e dos ‘bla bla blas’, o valor realmente deveria ser alto, pra elitizar mesmo. Dentro da balada, que alias contava com mais espaços e mesas do que com pessoas efetivamente, nada justificava a entrada, que eram “meros” R$ 150,00 (isso seco, apenas para entrada, fora consumação e vallet). Me deparo com cardápio: água a R$ 8,00, cervejas nacionais a R$ 28,00, vodka com energético a R$ 60,00. A qualidade do som era de regular a ruim: dois amplificadores pendurados, retorno mais básico, impossível. Camarotes a, no máximo 50 centímetros da pista, (altura de um degrau?), iluminação daquelas que a gente consegue fazer em casa, com luzes coloridas, laser do “xing ling”, estrobo by Santa Ifigênia. Não bastasse tudo isso, o DJ, ah… O DJ era um capitulo a parte… Digamos que qualquer um de nós com um dock station na mão e um celular, faríamos melhor… ou mesmo um simples computador e um winamp… No fim das contas, fiquei extremamente decepcionada ao ver que as músicas estavam mixadas prontas em um CD, e que ele não tinha nem o trabalho de procurar ou trocar algo. Moral da história: não acredito que um lugar como aquele deva valer nenhum dos R$ 150,00 investidos pelos frequentadores.

Tenho consciência de que ninguém é obrigado a nada. Vai quem quer, e gasta quem tem condições. Mas ali, ao analisar, pensei que existia uma ótima oportunidade de negócio simplesmente desperdiçada, pois quem promove, quem administra, quem seleciona, não tem a menor competência para fazer aquilo encher, e ser bom de fato, como é o conceito do hotel em que está inserido.
Do mesmo jeito que aquela casa noturna é subjulgada aos olhos de quem realmente entende, sei que existem outros tantos lugares do mesmo jeito em São Paulo. Casas em que gente que nasceu endinheirada acha duzentos ou trezentos reais troco. Mas a intenção aqui não é julgar como os frequentadores gastam seu dinheiro, e sim se o retorno obtido realmente vale a pena – em festas que “conceito” são apenas chuva de champagne com velinhas de aniversário, “new faces” enfeitando o ambiente, mistura de meia dúzia de top 10 comprados pelas rádios tocando para o público – selecionado, endinheirado, entediado e plastificado – num local que custou vários mil reais, só não se sabe exatamente em que.
Sim, existe uma carga tributária no Brasil que inviabiliza uma série de coisas, e com casas noturnas a tramitação não é diferente – sem contar a burocracia, a máfia oculta por trás de concessões, regulações e negações de alvarás de funcionamento – porém, do mesmo jeito que os impostos são altos, os valores repassados ao consumidor também são. Veja por exemplo o caso que ocorreu junto ao Credicard Hall. Em matéria publicada no jornal Estadão em 19 de março, por uma sentença publicada pelo Diário Oficial da União, a casa ficava impedida de barrar “a entrada e o consumo de alimentos e bebidas que não tenham sido adquiridos no interior da casa de espetáculos, sob pena de multa diária de R$ 100.000,00 em caso de descumprimento”, já que havia dentro do local apenas uma lanchonete, com valores que chegavam a ser “214% acima do preço praticado no mercado sem que haja a possibilidade de escolha do consumidor”.

Não sou partidária de quem as pessoas entrem com bebidas em baladas, pois acho que isso geraria uma confusão sem precedentes – mas acho sim, que uma garrafa d’água, que custa R$ 0,50 a um proprietário que compra aos milhares, não deveria ser vendida a oito ou dez reais, mesmo embutindo os custos diretos e indiretos, já que é pago valor de entrada.

O consumidor brasileiro já não é mais o mesmo, que compra qualquer coisa que vier pela frente. Somos responsáveis, e acredito que as casas noturnas que ainda acreditam que farão sucesso praticando esse tipo de atitude estão fadadas ao fracasso. Do mesmo jeito que queremos prestigiar nossos ídolos, ou pessoas reconhecida por seu trabalho em sua carreira musical (refiro-me á DJ’s, cantores, cantoras e personagens seja de entretenimento noturno ou do meio musical), já somos muito mais exigentes quanto a noção de como empregamos o dinheiro. Pense nas casas noturnas que você visitou e parou de ir porque decaiu demais, até fecharem suas portas de vez, ou nos shows da Madonna da Confessions Tour com 3 dias lotados comparados a MDNA tour, que, no segundo e terceiro dia estava parcialmente vazio. Compare também os festivais que, em suas primeiras edições também eram lotados, e hoje, com valores absurdos, perderam o brilho e subestimam a inteligência de quem os visita com suas “grandes” atrações – astros batidos que acrescentam pouco ou quase nada aos locais.

Sei que o mercado brasileiro pode ir muito além disso, porque existem grandes profissionais que não conseguem aquilo que merecem ou porque não estão no local certo, ou não tem a assessoria certa, ou não tem aquela pitada de sorte que, quem nasceu para brilhar certamente tem. Porém sei que a maioria dos consumidores dá valor a cada centavo que gasta, pois aquilo é fruto de muito esforço ou suor. Portanto, antes de realizar qualquer evento, acredito que qualquer bom administrador deveria, pelo menos, pensar nos pontos descritos acima, ou estará fadado apenas a ser mais uma baladinha, “bonitinha e miserável”, embutida numa embalagem de luxo.