Vale a pena corromper a identidade de um club, pra tentar deixa-lo cheio? Confira uma discussão positiva e construtiva, sobre um tema que anda como uma sombra em várias casas noturnas em São Paulo.
O PLUGtronic vem, mais uma vez, levantar uma discussão positiva e construtiva, sobre um tema que anda como uma sombra em várias casas noturnas em São Paulo – vale a pena corromper a identidade de um club, pra tentar deixa-lo cheio? E quando a qualidade da música é subestimada a um local que está mais preocupado em sua capacidade máxima de publico, do que contar com música de qualidade e bons Dj’s?
Há algum tempo tenho saído da zona de conforto, e procurado novos lugares na capital paulistana para conhecer. Acho importante essa abertura, já que o clichê muitas vezes acontece, e justamente “naquela noite em que não temos a menor expectativa de que ela seja boa, ela surpreendentemente passa a ser incrível”, e prestamos atenção em algo que até então não tínhamos notado anteriormente.
Inversamente a isto, o oposto tem acontecido de forma muito mais constante do que eu imaginava. Pense no tempo em que você saía, e sabia (ou pelo menos tinha noção) do que encontraria em determinadas casas noturnas, como por exemplo noites tradicionais em que tocavam Techno, deep house, enfim, qualquer uma vertente de musica eletrônica, com qualidade, com gente que pensava apenas em tocar o que tivesse de melhor em suas pesquisas, suas convicções, suas influencias, ou o feeling que possuía com seus (normalmente longos) anos de estrada em pistas. Atualmente, casas pipocam em várias “esquinas”, com propostas “inovadoras” – o que mais se lê é “TOP”. Afinal, a que raios eles estão se referindo? A distribuição de meia dúzia de cartões, cortesias, flyers? A abertura de uma comunidade com “membros selecionados”? Ou ao line-up “estouro”? Honestamente, esse negócio de “top” anda meio cansativo.
Semana passada fui levar um amigo para conhecer uma casa pela qual já frequentei a alguns anos atrás, mas que passou por algumas reformulações, que incluem desde estrutura física, mudança de sócios, e alteração dos conceitos até então utilizados. Sei que balada é um negócio como qualquer outro, e sendo classificado assim, gera empregos, tem que ser lucrativo para manter-se aberto, tem seus períodos ascendentes, descendentes, deveres e direitos enquanto pessoa jurídica. Mas às vezes nem toda mudança é efetivamente positiva. De fato naquele lugar não foi – e ali vi o que acontece em tantos outros.
A triste constatação é que hoje, quem manda na empresa coloca primeiro seus ideais pessoais sobre os profissionais. O cenário nacional é amplamente cercado por gerentes que levam aos seus clubs quem eles gostam, e não algo que seja coerente à proposta do local.
E os promoters? Estão mais preocupados em encher a cara dentro da balada, do que fazer seu trabalho em si, que é promover a imagem da casa de uma forma bacana e satisfatória, de ser alguém que se preocupa em sair para conhecer gente, aprimorar sua rotina, e realizar o seu trabalho. Existem sim, os que conseguem fazer disso realmente sua profissão, e que são requisitados “a tapa” pelos proprietários de festas – justamente por serem raros. Mas conhecer gente é bom para o promoter, e isso tem sido delegado ao DJ. Vemos diariamente DJ’s extremamente talentosos que tem sua arte menosprezada a gente que simplesmente tem um grande networking, mas não faz ideia do que realmente seja pesquisa, mixagem, ou tenha noções básicas sobre técnicas de áudio e música. Hoje, a casa paga para um pseudo-DJ “tocar”, quando seu intuito maior é fazer com que ele leve uma lista gigantesca que possa encher o local. Será que esta é a melhor solução? Minha indignação refere-se justamente ao fato de que, conforme os anos vão passando, a tal “evolução” inexiste, e as pessoas acham que não reparamos quando o “DJ” coloca um CD para tocar, e misteriosamente ele só sai no final… Isso quando a música não fica chiando em nossos ouvidos o tempo todo porque o cidadão não teve a dignidade de comprar música, e achou muito mais fácil “piratear” do que investir em seu próprio trabalho… Profissionalismo? Pra que se dar ao trabalho? Repito que não quero generalizar, pois reconheço que tem pessoas e locais muito bons no mercado, e o Brasil tem casas que são consideradas as melhores do planeta. Justamente por isso é inaceitável que isso aconteça com tanta frequência. A justificativa de “entrada vip” já não cola mais, afinal, a entrada pode ser vip, mas pagar valores 1000% mais altos do que os praticados no mercado me faz pensar que já estão inclusos entrada, impostos, serviços e infraestrutura. O que mais me desaponta é saber que cenários como esses são mais comuns do que eu imaginava (já falei de forma um pouco mais profunda na matéria “Preços de Balada”), em que o feeling é guiado única e exclusivamente por gostos pessoais – já chegaram a me pedir o absurdo de retirar uma matéria do ar, em que falava positivamente sobre a casa, porque o titulo era “inapropriado” e o conteúdo da matéria foi subjulgado a ótica preconceituosa de um dos proprietários do selo, o que comprova seu amadorismo (mas que, em sua mente, é tida como “zelo à imagem”…).
Poucos empresários atualmente estão dispostos a “educar” o ouvido de quem frequenta balada: quando me refiro a “educar” é justamente oferecer o melhor, se aprimorar, estudar, entender, se reciclar, estar aberto a nos possibilidades, planejar e estruturar para que qualquer tipo de inovação, apesar de ás vezes se constituir em risco seja algo mensurável, e não um top 10 comprado de rádio. Já ouvi também gente falar que no mercado nacional, toca quem é amigo de promoter, de dono, de gerente, de alguém que mande. Alguém que simplesmente preocupe-se com executar bem seu trabalho não é reconhecido, e acredito mesmo que não seja, afinal a mistureba que se vê é gente querendo abraçar o mundo, mas foco que é bom, nada (pode até ser valido, mas house + funk + sertanejo + hip hop…?).
Enfim, por mais batido que pareça, o Brasil ainda tem o que aprender em termos de profissionalismo com o mercado internacional. Sim, sei que temos evoluído muito, mas ainda ter que reconhecer que DJ é chamado porque conhece uma panelinha que vai aplaudir qualquer coisa que ele fizer chega a beirar o absurdo não? Tá na hora de parar de estar sempre ocupado, e mostrar quem é que trabalha de verdade.