Tribe • Mais que uma festa, o retorno de um festival com qualidade

No dia 17 de maio, depois de uma pausa generosa de 2 anos, ocorreu na fazenda Maeda, em Itu, a Tribe, festival de música eletrônica open air que reuniu 30 mil pessoas de diversas partes do Brasil – Saiba tudo que rolou nesta edição do festival.

No dia 17 de maio, depois de uma pausa generosa de 2 anos, ocorreu na fazenda Maeda, em Itu, a Tribe, festival de música eletrônica open air que reuniu 30 mil pessoas de diversas partes do Brasil, distribuídas em 4 palcos que somados traziam mais de 50 atrações. Mais do que uma festa, a superação reinou, e o cenário nacional comprova que é possível sim a realização de eventos com profissionalismo e competência.

 

A Tribe, diferente de outros festivais, enfatiza muito sua preocupação em oferecer qualidade em toda a esfera envolvida. Quando cito qualidade, não é apenas um palco bonito, com o DJ numero 1 (não desmerecendo quem o faz, obviamente), mas sim em trazer line up de peso, e focado ás diversas vertentes de musica eletrônica, sem fazer a tradicional salada que estamos acostumados a ver por aí. A escolha por segmentar palcos de psy, house & techno, deep house e EDM não poderia ser mais acertada, bem como o line up, feito de forma linear e que com certeza, marcou os frequentadores como sendo uma das melhores (senão a melhor) edição. A entrada, com placas gigantescas indicando os setores, davam a proporção de quem já sabia o que lhe aguardava, especialmente na Maeda, considerada um dos lugares mais seguros e confortáveis para a realização de festas do gênero em São Paulo. O conforto era extensível a todos os setores: quem comprou pista, tinha acesso aos 3 palcos, praça de alimentação, contato com a natureza; quem optou pelo backstage ganhou ainda acesso à pista domo, com sons que, até leigos, entenderiam como elegante e inteligente em sua totalidade; e finalmente os camarotes, que estavam dispostos tanto na pista de EDM quanto no backstage, com uma visão linda de tudo que acontecia, e áreas exclusivas em suas partes posteriores. Isso é uma das evidencias que esse foi um festival pensado em detalhes.10364003_866757783339474_521182888_n

Falar do palco Solaris é chover no molhado, afinal não é a toa que ele fica estrategicamente posicionado no centro da Maeda – de qualquer ponto dá pra escutar o que rola, e principalmente, ver o mar de gente que o cerca. Elogios rasgados foram tecidos por tops como Astrix, Ace Ventura, Sesto Sento, Neelix e Growling Machines. E, mesmo com a redução da altura do palco das pick-ups, a alusão ao minimalismo foi percebida (a edição de 2012 contava com cenografia também em madeira, porém similar á flor de lótus, e gigantesca – em compensação a tenda posicionada a sua frente com desenhos psicodélicos, foi bem maior e pintada a mão, com mais de 50 metros de diâmetro).

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No Tribe Club, a trinca de apresentações seguidas de Victor Ruiz, Du Serena Vs Dahan e Boris Brejcha foram brilhantes (não é a toa que Boris, alemão que também atende sob a alcunha de “Bruxo” tem a agenda lotada, e som peculiar, justamente por ter high-tech e minimal as suas marcas registradas).
A pista Domo, dedicada ao backstage, mais do que pensada aos amantes de deep house, foi traduzida num espetáculo sem precedentes. O palco, com cortinas em veludo vermelho, remontavam ás utilizadas em teatros clássicos. Clássico talvez fosse um dos adjetivos que descreveram a grandeza de quem se apresentava, com lindos painéis de led atrás de si. Um dos momentos mais emocionantes, com certeza foi quando Gabe tocou “Enjoy the Silence”:

Sem contar também com os franceses Amine Edge & Dance (um dos primeiros nomes confirmados, que com certeza fizeram jus á expectativa, em sons que faziam com a plateia respondesse á altura das pulsações do coração, muito característico ao deep).
A Fusion Room foi o palco dedicado á EDM, e o poder de fogo dos que ilustraram seu palco era de profissionais que contavam com artilharia pesada, calibre alto e poder de destruição. A cenografia mixava design e iluminação em leds piramidais. O primeiro que merece aplausos efusivos é o brasileiro Viktor Mora, protagonista das pick ups que assumiu seu posto por volta da 1:30 da manhã, e fez um live set que, para nossa alegria, poderá ser levado para qualquer lugar – sim ele gravou, e disponibilizou em sua pagina no soundcloud para download – com diversos mash-ups, e como tenho repetido exaustivamente, é um dos competentes profissionais que também utilizam do adjetivo “qualidade” como seu norte. Confira no player abaixo:

Outra grata surpresa foi a dupla holandesa que subiu em seguida a Viktor: Showtek. Os produtores, ovacionados quando subiram nas pick-ups, vieram carregados de energia. Portando canhões de Co², as produções deles fizeram muito barulho – “Vassy”, com os vocais de “Bang Bang” de David Guetta, soaram em coro na plateia. “Cannonball” explodiu por volta das 03:35 da manhã, com bass explosivos, conquistando a plateia definitivamente. “Bouncer” e “We Like to Party” entraram como sendo pontos memoráveis da apresentação, sendo que aliada á simpatia do duo, foram relembradas durante a noite como uma das melhores apresentações da tenda de EDM. “Booyah” com certeza, foi a produção que mais causou alvoroço, já que foi exaustivamente tocada em rádios de todo o planeta.

Os americanos DVBBS, além de entrarem com atraso (que já estava em torno de 40 minutos) contaram com uma grande desvantagem: na troca de artistas, o som parou por minutos que pareciam uma eternidade, e fizeram com que o clima esfriasse. Mesmo exaustivamente “Tsunami”, hit da dupla, ser tocado, não foi o suficiente para empolgar ou fazer qualquer tipo de estardalhaço, por maior que fosse o esforço. Valeu para conhecermos a performance da dupla, as produções, que só atingiram seu ponto máximo mesmo no fim, entoando também “Immortal”, “This is Dirty”, “Raveology” e “Stampede”.
Em compensação, outra grata surpresa foi Paulo Henrique, paulista que atende por “E-cologik” que com apenas 20 anos de idade, fez o que gente com décadas de experiência não faz. Não falou, simplesmente subiu no palco e fez. Fez de forma brilhante, segurou a linda visão do amanhecer, e sagrou-se como uma das revelações do festival. Duvida? Comprove com este live set também:

Martin Garrix, também holandês, subiu ao stage por volta das 7:40 da manhã. Recém completados 18 anos de idade, ele já tinha apresentado-se na mesma noite no Federal Music em Brasília, e no Green Valley em Santa Catarina, sendo está sua primeira visita ao território nacional. Garrix também comprova, assim como Paulo Henrique, que as novas gerações são cada dia mais dedicadas e elevam o nível de profissionalismo a patamares cada vez maiores. E desde os primeiros acordes, na introdução de sua entrada, ele já vinha pra deixar a esfera que Viktor, Showtek e E-cologyk tinham criado. Entoou todos os principais hits, “Wizard”, “Animals”, “Tremor”, “Proxy” “Helicopter” e a novíssima “Gold Skies”. Magui, o residente do Tomorrowland Yves V e o brasileiro Ftampa sempre lembrado por Hardwell foram os encarregados de encerrar os trabalhos em EDM.10169046_866757883339464_127424414_n

Como disse no inicio, a Tribe veio, mais do que trazer grandes nomes da música, comprovar mais uma vez o poder da competência dos brasileiros – já que as estrelas nacionais foram ovacionadas em nível igual ou maior que as internacionais – bem como demonstrar que é possível sim realizar festivais que se integram com a natureza e resultam em experiências sensoriais dignas de serem relembradas durante muito tempo. Estamos, sem sombra de duvida, ansiosos pelas próximas edições!


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Fotos: Silvio Sato